domingo, 31 de março de 2013


"A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é."


Guimarães Rosa



quinta-feira, 28 de março de 2013

E melhora?




O PSC quer trocar o pastor Marco Feliciano (SP) pela profeta Antônia Lúcia (AC) na presidência daComissão de Direitos Humanos da Câmara. Ele é acusado de racismo e homofobia. Ela, de compra de voto, fraude, quadrilha, peculato, caixa dois, falso testemunho…

Só tem Pepsi, pode ser?

quarta-feira, 27 de março de 2013

Não há volta e por isso, só por isso, seguimos em frente.



Uma grande perda não tem graça nenhuma.

Numa grande, enorme, abissal perda, não há encantos, filosofia ou espaço para manobra.
Uma grande perda não dignifica, não nos torna maiores, mais atilados, nem bondosos de coração, não garante mais gentilezas ou cafunés dos que os que receberíamos não fosse a grande perda tão grande (acredite, eu sei do que falo).
Não há nada de belo, de romântico, de etrusco, de francês-dos-anos-vinte, de vitoriano, de romano, de renascentista numa grande perda. Não, sexo-afetuoso-consolador-vem-cá-meu-bem-que-tudo-vai-melhorar não é uma opção.
Não há nada de belo numa grande perda, numa perda enorme, numa perda abissal. Não, nós não saímos do outro lado do túnel pessoas melhores.
Não, não.
E nem mais sábios, mais felizes, mais inteligentes, mais descolados. Não.
Uma grande perda, uma perda enorme, uma perda abissal só vai nos tornar mais frágeis.
Nossa pele fica mais fina, nossos olhos maiores, nossa voz mais grave (o que no meu caso significa dizer que há dias em que me pareço com um travesti-fumante-com-a-garganta-inflamada e quando atendo o telefone, o interlocutor pergunta "o senhor é o dono da casa?").
Depois de uma grande perda, a música tema do Parque dos Dinossauros vai nos arrancar lágrimas e soluços.
Uma grande perda, uma perda enorme, uma perda abissal, leva parte, boa parte, da nossa capacidade de amar. De acreditar. De esperar. E de negociar, principalmente.
Uma grande perda nos torna irascíveis, amargos, impacientes, uns cretinos.
No meu caso, mais cretina.
A grande perda, a perda gigantesca, a perda definitiva levará nossos cabelos. Nossas vaidades. Nossa coleção de copinhos de saquê. Nossos livros de receita e nossas meias coloridas. Levará nosso melhor sorriso, nossos parcos talentos e um pedação da nossa capacidade de nos surpreender – para o bem e para o mal.
Uma grande perda, uma perda importante, uma perda de verdade, tira parte vital da nossa capacidade de indignação. Da nossa capacidade de brincar com quebra-cabeças, de ver filmes sobre doenças terminais, de ler livros sobre coisas horrorosas. leva parte importante também de nossa vontade de viver, do valor que damos para as coisas – e eu não estou falando do time, do i-pod e do batom da MAC. Não, depois de uma grande perda você não andará por aí louvando o sol e as margaridinhas. Quem faz isso não perdeu o maior e o mais importante, creia.
Uma grande perda nos castra, cala, mutila e anula. Não há volta para as grandes perdas, as perdas enormes, as perdas abissais.
Não há volta e por isso, só por isso, seguimos em frente.
Uma grande perda avacalha nosso esquema, estraçalha nossos planos, esmigalha nosso fígado e bota um certo tremor em nossas mãos.
A única coisa que talvez advenha de uma grande perda, e que talvez seja aproveitável - note, eu não disse 'boa', 'positiva', 'bacana', e nem nenhuma babaquice dessas, eu disse aproveitável; e note, também, que eu usei dois ‘talvez’ – sobre uma grande perda, é que ela nos dá a exata dimensão do que é e do que não é.
De modos que no meio duma belíssima crise, depois do mais surreal dos diálogos, você e eu, que já sofremos uma grande perda, uma perda enorme, uma perda abissal, paramos de chorar e vamos pendurar roupa e ligar para o moço vir entregar o sabão em pó para lavarmos o banheiro: nós já perdemos mais, já perdemos melhores, já perdemos o que importa.
Foda-se.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Eu fui pra muito longe

Minha rebeldia não dura muito tempo, tão pouco o meu egoísmo...Os meus olhos e a minha percepção não me abandonam. Nos momentos precisos, reaparecem. Nos momentos em que me sinto tão patética, tão imatura, tão neurótica atrás de um drama. Toda uma existência nessa corrida desenfreada por ele, pelo drama. Eu sei o quanto é difícil me desvencilhar desses velhos hábitos . Vivo isso no meu dia a dia, nas minhas escolhas, nas experiências das relações que deixo pra trás, que elimino. Elimino no momento exato que o meu coração se cansa, quando ele me pede que eu desista. Ah Maria, você não vai mudar o mundo, tão pouco as pessoas. siga em frente, deseje o bem, toda a sorte do mundo. Mas agora chega. Sei o motivo da expulsão, aceito, porém não deixo de amar, de querer bem e  desejar toda a sorte do mundo. A maior de todas as sortes desse universo. Sinto muita falta de algumas dessas pessoas. Todos os dias, imagino como está o seu dia a dia, torço por suas conquistas, torço pelo seu amadurecimento, envio amor, e tento seguir.
Sei que tenho facilidade com o corte, sei lidar bem com facões, tive que aprender a partir do momento que o meu coração disse: Aqui não cabe nenhum desabrigado, pra entrar e permanecer, tem que contribuir e fazer com que o ambiente permaneça limpinho.
Sei quem eu sou, sei o que me constitui e vivo no exercício diário de tornar uma pessoa melhor.
No exercício de deixar algumas manias, costumes. O tempo todo tento calcular esse modo de agir, pensando em cada passo do corte e em um momento de bobeira eu posso deslizar e ir embora. E nunca mais falar. Foi assim que você saiu da minha vida.
Eu sei que hoje as minhas decisões muitas vezes tem um impacto grave...Tão grave.
Eu não quero mais que aconteça.
Estou na dura lição de selecionar os queridos que estão entrando, para que permaneçam.
A lição infantil de aguardar dramaticamente um recorde de afeição e ao me deparar com o placar ficando negativo, declinar.
Isso acontece geralmente naquele breve segundo em que eu me deixo escapar.

Eu escapei de mim mesma, quando cortei. Mas não queria ter ido tão longe.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Não faço parte


Necessidade enorme de ser eu. A maria mais legal precisa renascer. Precisa de temperatura e companhias favoráveis. Sinto falta de não ser legal, de não sorrir macio, e assim me reconhecer. Sinto muita, muita falta de mim. Preciso de mim sem esforço, sem cobranças, só porque eu quero assim, eu primeiro, eu unicamente, lembro das minhas risadas e choro, porque nelas eu me reconhecia, choro lembrando do meu tom acima, do meu corpo ficando mais leve. 
Eu já estou sendo forte faz muito tempo.
Eu tô sentido falta da minha química, do meu lugar nessa dinâmica, de fazer parte. 

domingo, 17 de março de 2013

Meu lugar



"E o meu lugar é esse
Ao lado seu, meu corpo inteiro
Dou o meu lugar pois o seu lugar
É o meu amor primeiro"

E quando acordamos estávamos casados, quando me dei conta, tudo que é nosso, já estava ali, o seu Xbox, a almofada de bolinha, as escovas de dentes juntas na caneca do Mickey, bem perto da quantidade de cremes que eu não uso, uma para cada parte do corpo ao lado das maquiagens que eu também não uso. Trouxemos livros, cds, revistas. Ainda não reunimos nossos amigos para jantares e partidas de imagem e ação. - A mesa, a mesa projetada pelo arquiteto que é ele, ficou linda e esperamos alguns detalhes de decoração...

Ando ansiosa pra receber os queridos, sei que será perfeito. Ele é muito bom com isso de receber pessoas, de ser agradável, amável. É o homem da minha vida. Incrivelmente elegante, com os pelos caindo por toda a casa, um olhar envolvente, uma boca criada para a minha e uma alma contornada por anjos.

Compramos uma cama para dois, um pendente japonês, e um cesto para colocar roupas sujas... Assistimos a filmes de drama, vamos a shows, pegamos as crianças, comemos muito feijão, morremos de rir.
Estamos nos transformando no que sempre quisemos ser.
Escondemos algumas coisas, deixamos escapar outras. Em uma linda festa de casamento, resolvi fazer o que sempre tive medo: Disse sim. Em uma cafeteria esses dias, me dei conta que será pra sempre.

Ele me olha profundamente, seus olhos enchem de lágrimas e ele não sabe o que dizer.

E eu sempre tive medo que o amor não existisse, mas existe, Não tenho medo do tempo, dos obstáculos, de que ele um dia vá se cansar das minhas calcinhas esquecidas no banheiro, da minha mania de limpeza, de banho, de lavar tudo toda hora. Eu sei que nunca vou me cansar da sua mania de roupa suja dentro do armário, do nosso esporte preferido que é quebrar copos, do barulho do xbox, espero que ele nunca se canse das minhas faltas, das minhas loucuras . Temos a nossa mesa na sala de jantar, compraremos cadeiras coloridas, colocaremos outro Spot no espelho da suíte, e luminárias nova pra cozinha. E são esses os nossos planos a longo prazo.

Ele me ampliou por dentro Eu, privilegiada, tripliquei meu espaço interno para receber os três, que também me acolheram e aceitaram.

E assim será sem pressa, sem grandes planos, aprendendo a ser essa família.

Só porque é gostoso, é fácil, é leve, e porque ele é o mundo que se encaixa em mim.


domingo, 10 de março de 2013

Não haverá revanche



Eram oito horas da noite quando eu pisei no seu pé e levei um tiro no peito. E descobri que o amor padece de, pelo menos, dois grandes sobressaltos: aquele em que se encanta e aquele em que se desfaz. A flor que se desprende. O retrato antigo. O pincel na água depois da aquarela. Todos vêm nos lembrar que a beleza é finita, mas a gente só recorda num atropelo do destino. Num dia em que Deus parece beber ao volante. Sendo que é você quem gira e se estraçalha lá na frente. Coração com fratura exposta e nada da ambulância chegar. Fazer o quê? Ir pingando até a emergência mais próxima. Tome isso, tome aquilo. Chora mais não, já passou. Passou nada. Um cuspe na cara teria doído menos. Mas não haverá revanche. Respeitável público, pode retirar, no guichê mais próximo, o seu dinheiro de volta. Aqui só o bem se apresenta. E que fique claro que o bem não é escolha relegada aos idiotas. O bem é uma arma silenciosa, que não ataca; defende os fortes de caráter. Os que sabem que alma não é coisa que se venda. Vai, atira. Atira! Eu só observo. Eu sou o prisioneiro diante do seu seu algoz. E o que vejo é que se o meu amor transborda em uma carta escrita à mão, o que você é cabe em um bilhete, enquanto o seu mal se espraia aos quatro ventos, sem medida. E, de alguma forma, volta pra você. O seu mal, que me castiga, sem delito, é o mesmo que há de lhe servir de lição. O mal que eu não lhe desejo, mas que eu espero que lhe ensine a ser alguém de verdade, que um amor não é troféu e que não, você não é tão esperto assim. Agora, dá licença, que eu preciso recolher o que sobrou de mim. Dá licença, que esse jogo eu levo, porque a aposta sempre foi mais minha do que sua. Por favor, dá licença, que eu vou ali e não volto. Não vou beber, pra comemorar, vai passar.
Obrigada!

sábado, 9 de março de 2013

E sou livre


As Boas Mulheres rezam. Eu escrevo. É minha maior vitória, minha conquista, o dom do qual me sinto mais orgulhosa; e as palavras, embora estejam sendo devoradas pelo grande silêncio, hoje constituem minha única arma.
Rosa Montero, 

“A história do rei transparente”.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Parecia inofensiva mas te dominou...



Difícil é desviar de quem tá sempre querendo
ela mantém a porta aberta ela te faz de instrumento,
vai te dominar, se já não dominou...

Ouvi o grito de dor de um homem que falava a verdade
mas ninguém se importava
Botando pra fora tudo o que sentiu na pele
Mas ninguém lhe dava ouvidos não...


quinta-feira, 7 de março de 2013

Porra, Chorão...



Queria ter escrito ontem pra registrar ...Não consegui, ontem foi um dia ruim, muito ruim.

A velocidade dos acontecimentos, 2013, acontecendo e não convencendo ainda.

Chorão me arrepiava quando cantava, a voz, a energia, a força, o amor saindo pelos olhos, pela boca, pela pele...Garoto bom, zero de bad boy, bandleader insubstituível.

Doeu muito, muito, muito, chorei pacas, acordei com meu marido me abraçando e falando baixinho que não tinha uma notícia muito boa pra me dar. Fomos ao seu último show aqui no Rio, ele sabia o quanto eu amava o Charlie Brown.

Tava na coluna do Ancelmo que semana passada o Chorão doou 25 skates, televisões leds, eletrodomésticos e 40 pares de tênis para os amigos mais próximos...

E nesse show me deparei com um cara cansado, exausto, muito exausto, apesar de ter ainda alguma energia no palco, me pareceu extremamente perturbado.

Fuga, drogas, vícios, cobranças, exemplos, separação. Tantas palavras soltas, mas que unidas com verbos, preposições, sujeito, objeto e conjugações, dariam um livro.

O livro da vida desse menino que se foi chorando.


E nos deixa aqui sentindo saudade.

domingo, 3 de março de 2013

E é um gesto difícil e humilde aceitar a culpa e admitir a falta



Eu preciso aceitar tantas desculpas, encerrar tantos processos dolorosos e preciso também pedir muitas. Muitas desculpas...


"Por algum motivo, começo a rabiscar aquela palavra no alto da página. Desculpe. Desculpe. É uma palavra que assombra e machuca. Parece pedir perdão por estar na página. É uma palavra tão clara quanto esquiva.
Escrevo em volta dela. Tecendo e riscando. Dou-lhe história e diálogo. Dou-lhe nomes e lugares. Dou-lhe fôlego e voz. Minha redação é veloz e bagunçada. Mordo o interior da boca e mal noto quando sinto o gosto de sangue.
E se torna claro para mim que aquela é uma palavra boa, usada por pessoas boas. Ninguém é verdadeiramente virtuoso, ninguém evita a maldição rastejante. Todos os personagens, em todas as histórias, pelejam entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Mas são as pessoas boas que sabem diferenciar, que sabem quando ultrapassam a linha. E é um gesto difícil e humilde aceitar a culpa e admitir a falta.
É preciso ser corajoso para dizer essa palavra e falar sério.Desculpe.
Desculpe.
"Desculpe" significa que você sente o latejar da dor do outro, como também sua própria dor, e que você assume parte dela. Portanto, isso nos une, nos assemelha. "Desculpe" é uma porção de coisas. É um buraco preenchido. Uma dívida paga. "Desculpe" é o acordar do delito. É a onda mutilada das consequências. "Desculpe" é tristeza, assim como saber é tristeza. "Desculpe", às vezes, é autopiedade. Mas "Desculpe", realmente, não é sobre você. Cabe a eles pegar ou largar.
"Desculpe" significa se abrir, para ser abraçado, ridicularizado ou vingado. "Desculpe é uma pergunta que implora o perdão, porque o metrônomo de um coração bom não se acomodará até as coisas se tornarem certas e verdadeiras. "Desculpe" não aceita coisas velhas, mas as empurra adiante. Faz uma ponte sobre a lacuna. "Desculpe" é sacramento. É uma oferenda. Uma dádiva.
Sim. "Desculpe" é quando pessoas boas se sentem mal."


O Segredo de J J, a vida de Maria Milesi

Sou uma pessoa  infinitamente melhor depois de você.