quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

É preciso estar junto, suportando o tempo da espera e do ritmo de cada um.

Observo cada passo dos dois, desejando que sejam grandes homens com caráter e princípios.



Ouvi de uma menina beirando os 8 anos que seu sonho era fazer uma boneca, não importava como ela fosse. Podia ser de papel, de pano, de milho, como a que fez nas férias com a prima que mora no interior do Ceará (as mesmas que sua mãe fazia na infância). Sua fala me surpreendeu e me encantou. Ela estava na contramão do desejo da maioria das meninas de sua idade por bonecas industrializadas.

Aqui, não vem ao caso o significado deste desejo, mas o episódio me fez pensar no quanto as crianças de hoje estão sendo isentas dos processos de feitura. Tudo vem pronto, processado – pela indústria ou outras pessoas.

Durante um bom tempo os brinquedos foram construídos pelas crianças, com sua participação ou pelo menos com sua presença ao lado de quem o executava. A criança tinha oportunidade de acompanhar, se não todo o processo, uma parte dele. O desejo de ter atravessava o fazer e a espera.

Isto não se limitava à confecção de brinquedos. A criança vivenciava começo, meio e fim, antes e depois, nas pequenas coisas cotidianas. Para chupar laranja era preciso descascá-la. Para comer bolo, fazê-lo. Para ter um cachorro, esperar que alguma cadela desse cria. Para morar na casa própria, era possível vê-la ganhando forma dia após dia.

Hoje, não é surpresa para ninguém uma criança não saber chupar laranja e morar no sudeste brasileiro; não saber que bolo é feito de manteiga, farinha, ovo ou ingredientes que os substituam; não saber que cachorro mama na cadela e que para construir casa usamos tijolo, cimento e outros materiais.

Em um mundo aonde nossas necessidades e desejos vêm prontos (até o cachorro sai de vitrine!) – ou são sempre possíveis de ser realizados – as crianças estão sendo eximidas da participação nos processos das coisas mais banais da vida. O tempo é do instantâneo, do imediato, do sem espera. Por isto mesmo, o tempo é do desprezível, do descartável, do usa e joga fora – de caixas longa vida às relações afetivas (para não dizer à própria vida).



Sei que existe um passado que não volta mais e que a vida contemporânea está cheia de privilégios que antes não existiam – poder terminar uma relação quando se percebe que não vale a pena levá-la adiante, falar “cara a cara” com quem mora distante, ter uma doença curada, são exemplos de uma infinidade de coisas boas que a contemporaneidade tem nos permitido e que não devem ser esquecidas.

Qualquer época é regada de aspectos positivos e negativos. No entanto, penso que é primordial indagar como nossas crianças enfrentarão os desafios que a vida apresenta, se estamos mergulhados num mundo em que raramente é dado tempo de maturação; ou seja, tempo para que um processo aconteça, com todas as etapas envolvidas, inclusive a resolução de dúvidas, conflitos e o encontro de soluções.



Creio que existe uma correlação entre o tempo do instantâneo e as sensações de esvaziamento e de falta de sentido vivenciadas por muitos, inclusive crianças, que têm se deprimido ou apresentado outros sintomas porque não participam ativamente de suas próprias vidas. Há sempre um gestor externo, do publicitário à família e sociedade. Há sempre um preenchimento do que parece vazio ou faltante.

No meu ver, há dois mecanismos que se somam a este tempo atual, e por isso merecem atenção:

1) A existência de certa equidade entre ser criança e ser adulto. Quando há um desnivelamento hierárquico adulto-criança, fica difícil saber quem é quem e, portanto, quais são os limites, deveres e responsabilidades de cada um.

2) A desobrigação da criança na participação de pequenas coisas do dia a dia. Afinal, como diz a música de Arnaldo Antunes, criança não trabalha, criança dá trabalho (se de um lado a música é uma defesa à infância sem trabalho em seu sensu stricto, de outro, revela um aspecto do contemporâneo de nossas crianças: ter sempre alguém para fazer por ela, criando uma relação de muita dependência e pouca autonomia).

Os processos são constituídos de ciclos, ordem e limites. Quando abolidos da vida das crianças (e adultos), fica muito difícil suportar o que não vem pronto e imediatamente.

Não há como combater o tempo, mas é possível que as crianças sejam ativas nos processos que envolvem suas vidas. Para isso, é preciso incentivar sua participação nos processos que as envolvem direta e indiretamente. É preciso que criança possa ser criança e que adulto possa ser adulto. É preciso permitir a criança testar, experimentar e errar. É preciso estar junto, suportando o tempo da espera e do ritmo de cada um.


Não quero vida social

Desde dezembro esperando e o próximo capítulo do Grey's será somente em 27 de fevereiro, daí eu pergunto ao meu marido o que é Hiatus, o site disse que entramos em Hiatus, desço a barra de rolagem e eles me explicam...






sábado, 11 de janeiro de 2014

Só quem nasceu com a sensibilidade exacerbada

Não é que o mundo seja só ruim e triste. É que as pequenas notícias não saem nos grandes jornais. Quando uma pena flutua no ar por oito segundos ou a menina abraça o seu grande amigo, nenhum jornalista escreve a respeito. Só os poetas o fazem.

[Rita Apoena]

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014


As pessoas andam falando demais.
As pessoas andam enxergando de menos.

domingo, 5 de janeiro de 2014

A minha cabeça nunca se cala.



Eu tenho profunda inveja de quem aceita, de quem acalma o próprio coração, de quem não tem tempo pra pensar demais. De quem é raso, de quem ri de tudo, de quem não faz questão de entender. Eu tenho profunda inveja de quem é fútil, de quem é monopolizado pela lógica cartesiana das coisas, de quem é bitolado pela fé cega, de quem é adestrado por deuses maus.

Eu tenho, profunda e confessa inveja de quem não viaja no tempo, não sofre pelo amanhã, não se lembra do que comeu. A minha memória, por mais curta que seja, também é seletiva. Ela se esquece de compromissos, receitas, senhas, mas jamais de sentimentos.

A minha vida, me é contada como se fosse a história de um estranho que mora no apartamento ao lado. A minha própria história se vai perdida, mas ali, no meio daqueles vultos de lembranças, eu ainda consigo enxergar a dor, a doçura, a euforia, as saudades que senti.

Admito que tenho inveja, de quem sonha com casa de pé direito alto, carro do ano e roupas caras. Isso tudo parece tão palpável. O que eu quero talvez nem exista. Seria eu bem mais feliz se pudesse parcelar a paz em doze no cartão.

Fico olhando para os casais embriagados, passionais, que brigam se descabelam, fazem ameaças de vida e morte e, no instante seguinte, se beijam loucamente. Eu tenho uma inveja tão grande de quem não pensa no sentido das coisas, de quem não remói, não digere, de quem não guarda nada além de objetos. Que inveja eu tenho de quem vive um bolero.

Eu tenho inveja das pessoas imediatistas que comem quando há fome, bebem quando há sede, ligam quando há saudade. Eu sou do tipo cansado que antes da primeira mordida sofre conflitos, lembra de viagens, pensa em quem não está comendo, conta as calorias e se pergunta quem inventou o tomate seco. Eu bebo quase me afogando, brinco com a garrafa, leio rótulos, eu me molho como uma criança sem coordenação, penso na pedra que vai se formando nos meus rins, na infância, nas aulas de química. Eu como, bebo e penso demais.

A minha mente é inquieta e barulhenta. Nada resolve, nada a cala. Nem remédio, nem meditação. A minha mente é carente, conversadeira, é moça nova, velha maluca. Lá vou eu dormir e ela continua tagarelando. Eu tenho profunda inveja de quem tem a alma muda, monossilábica, alma antipática. Das mentes que não cantam Vinicius, nem Elis, mas tche-tchere-rês. Eu tenho inveja, inveja das grandes, de quem tem a ignorância como aliada. 
A minha cabeça nunca se cala.
Nem a minha Diego !