quinta-feira, 29 de março de 2012

Das resiliências





Paz é uma sensação de dever cumprido. De aceitação. De ver o seu melhor ser aceito, sem brigas. Paz são olhos de mãe te observando com admiração. É ter respeito. E paz não tem nada a ver com destino. Esse que você espera que te entregue seus planos e suas esperas na palma da sua mão. Paz é o plantio de boas ações. É o cuidado com as palavras. É a paciência no meio da tormenta.
Paz é uma sensação para poucos.

É uma sensação que não é quente, não é frio e muito menos morno. Te faz leve e segura. Segura pra dizer que suas verdades mudam com o tempo. Mas seus valores não.

vanessa L



De volta!

terça-feira, 20 de março de 2012

Não sou felicidade de atacado





A despeito do que pode parecer, sou uma pessoa muito simples. Meus gostos são muito simples. Eu me satisfaço com muito pouco. É um pouco bastante específico e peculiar, é verdade, mas é pouco. É pouco se comparado ao resto com que as pessoas costumam se satisfazer. Eu não preciso de muito dinheiro, de carro, de roupas e coisas caras, de ter X relacionamentos, de que algo-de-muito-emocionante (na concepção alheia padrão) aconteça na minha vida. 

Eu tenho muito apreço pelo cotidiano. Atualmente eu gosto muito dos fins de semana, porque eu ando trabalhando demais, mas eu não espero loucamente pelos feriados, fins de semana e férias. Não sou felicidade de atacado. Prefiro minha cota no varejo do dia a dia. Talvez por ter passado um período grande demais tentando simplesmente manter a cabeça pra fora da água, ou tocar o fundo com a ponta dos pés, hoje em dia eu me satisfaço boiando. O que não quer dizer que eu não enfrente uma boa onda e vá pra arrebentação se preciso for.



(Ok, a metáfora marinha pode não ter sido uma boa ideia).


Mas o interessante é que, aos olhos dos outros, a coisa não é assim. E - que diabos - nossa identidade é forjada, também, a partir do que os outros pensam de nós. Admiro muito [sendo irônica] essas pessoas que dizem que não-estão-nem-aí-pro-que-os-outros-pensam. Assim como aquelas outras que dizem que só-se-arrependem-do-que-não-fizeram. Claro que não é possível nortearmos nossas vidas e nossas escolhas pelo outro. Mas também é difícil não nos deixarmos influenciar em alguma medida.


Nesse sentido, é também fácil encontrarmos modos-de-vida-alternativos-padrão. Se a felicidade padrão é uma, a felicidade alternativa também tem um padrão.


Às vezes é difícil ser eu. Ou então eu me esqueço de que é pra todo mundo.

E acabo acreditando muito no que os outros dizem sobre eles mesmos.




Carrie, a Estranha 



Então é que eu preciso sair da brincadeira de novo, mas, eu volto...


Se volto!


segunda-feira, 19 de março de 2012

É fácil compreender o desamor. O amor, não. O amor é um enigma.

Até a noite da quarta-feira passada, para mim eram três os grandes mistérios do universo: a existência da “partícula de Deus”, se Capitu traiu ou não Bentinho, o paradeiro dos ossos de Ulysses Guimarães. De repente, tudo mudou. E eu descobri que havia apenas um mistério sobre o qual valia a pena me debruçar. E não apenas isso, que este era todo o mistério possível desde que me tornei uma bípede precoce e tresloucada, batendo a cabeça pelas paredes do apartamento da família, aos nove meses de vida. Aconteceu como costumam acontecer os grandes acontecimentos. Sem anúncios do Banco Central, sem qualquer menção no calendário maia. Só eu e a minha solidão diante do universo insondável. 



A primeira frase completa dele foi para a minha mãe: “Quero a minha aliança”. Minha mãe tirou a aliança que havia colocado em seu próprio dedo e devolveu-a ao local de origem, o dedo anular do meu pai. 
A segunda vestimenta que meu pai exigiu foi sua prótese dentária. E a terceira, seu relógio de pulso. Com o amor da minha mãe no dedo, todos os seus dentes para mastigar a vida e o tempo amarrado ao braço, meu pai já não estava mais nu. E assim, completo, começou a acariciar a minha mãe. Lua de mel numa hora dessas?, eu e Mafalda pensamos. Eu te amo, ela disse, aos quase 77 anos. Eu te amo, ele respondeu, com quase 82. Muito, ele acrescentou.Porque era isso. Depois de voltar do sono anestésico, de onde todos nós, por mais confiantes que estejamos, tememos não retornar, tudo o que meu pai queria era recasar com a minha mãe. Recasaram-se ali, sob os meus olhos de bolinha de gude, ela com dor nos joelhos, ele com uma sonda na uretra. Naquele momento, o gato tinha mesmo comido a minha língua.
Eu estou aqui!, gritei eu, com uns... digamos... 9 anos. Oquei, 5... no máximo. 
O amor dos meus pais deverá permanecer para sempre um mistério. A partícula Bóson de Higgs poderá ser comprovada. Machado de Assis talvez um dia dê um safanão no “espírito Lucius” e faça Zibia Gasparetto psicografar se aqueles olhos de ressaca eram traidores de si ou de Bentinho. E um dia até os ossos de Ulysses Guimarães poderão ser encontrados. Mas o amor dos meus pais deverá permanecer um mistério. 
É fácil compreender o desamor. O amor, não. O amor é um enigma.

domingo, 18 de março de 2012

Não sei




O que eu faço com essa liberdade toda? Não sei.
Sabe-se lá o quanto isso é libertador e perturbador? 
 Talvez eu fique em casa num sábado à noite decidindo se coloco um ponto final em um dos meus textos, se vou à festa com os meus amigos, se saio com aquele rapaz bonito que me convidou para um choppinho no Devassa, ou se escrevo um texto para contar dos textos que não terminei.
Como podem ver, fiquei com a última opção. Ando pouco devassa. E embora eu torça para que não haja muita gente em casa num sábado à noite lendo o que eu estou escrevendo, eu precisava publicar porque não suportaria terminar a semana com mais essas reticências nas costas.
Nas próximas horas eu preciso decidir se vou cancelar uma viagem importante, se vou pintar minhas unhas de vermelho ou azul, se vou aceitar uma proposta de emprego, se vou lavar o cabelo, se vou abandonar um projeto, se vou depilar com cera ou passar gilete, se vou dar um telefonema que pode mudar a minha vida para sempre e se vou trocar o meu sofá por uma escrivaninha. Como podem ver, ando muito ocupada arrumando desculpas para não terminar a infinidade de coisas que comecei. Típico.
Não sei! - essa foi a resposta que mais usei ao longo da semana. Quase uma libriana! Não sei se faço, se espero, se compro, se vou ou se fico, inclusive na merda, porque, né? Tá ruim, mas tá tão quentinho…
Para reverter esse quadro, decidi trocar o talvez por não e o não sei por sim durante uma semana, a começar a contar de hoje. Todos com ponto final ou, melhor ainda: com muitas exclamações!!! Doa a quem doer, perdendo o que tiver de ser perdido e ganhando na mesma proporção. Depois volto aqui para contar o resultado do desafio. Se eu sobreviver às minhas próprias decisões, naturalmente.
Se alguém mais se animar a sair do “quentinho”, pode ir começando a escolher para qual lado do muro vai pular e é bom que se prepare para correr caso tenha um cão bravo do lado que escolher.
Com emoção antes do ponto final é mais gostoso!

Aqui !

sexta-feira, 16 de março de 2012

É possível definir inteligência?

“Convém que se esclarece uma coisa: ser mais inteligente não significa ser melhor, ou ter mais sucesso profissional ou financeiro. As pessoas humildes e sábias aceitam que outras são mais inteligentes… e que essas pessoas mais inteligentes não pertencem ao panteão dos deuses… podem ser comuns mortais que compartilham o autocarro conosco. Mas como a humildade e a sabedoria estão cada vez mais ausentes da nossa sociedade, em que toda a gente se acha mais esperta e com mais razão que o resto dos vizinhos, é normal esta reacção violentíssima ao assumir que há pessoas mais inteligentes.


[...]

“Existe apenas um método provado para a evolução da humanidade: encontrar a inteligência, suportá-la, alimentá-la e depois deixá-la dirigir. A Humanidade precisa da inteligência para sobreviver (sim, para sobreviver)… Nenhum outro método alguma vez resultou e nenhum outro alguma vez resultará.”

Carlos Simões, trechos de É possível definir inteligência?
Para ler o texto completo, aqui.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Eu quero tudo o que tenho e só desejo o que posso.



"Foi conhecendo um quase amigo que  uma grande paixão começou. Simples como uma criança pedindo pra você brincar de roda com ela. Brincando de roda, trocamos segredos, confiei tanto na minha intuição que até compartilhei memórias, pensamentos, dores e alegrias; Como quando você conhece alguém e cria-se um laço confortável.
Só que eu sou boa em fazer falta e fui embora pq de repente eu senti medo, incerteza, insegurança surgindo como uma tempestade no mês de março no meu Rio de Janeiro. Fugi pq veio as razões, os traumas que sempre voltavam do passado mais q imperfeito e depois, o vazio, pq perder amor é fácil ( já sou expert ), mas, perder amigo me fere, me ultraja e me deprime e perder um amigo que eu precisava abraçar, sentir o cheiro, olhar e me sentir a pessoa mais compreendida do mundo todo foi mole não.
Foi mole não, porque já havia sido incorporado as minhas memórias uma sensação de pertencimento, de paz, de alegria por encontrar um sentimento desconhecido, mas que fazia bem.
Teve espumante, não teve holofote, tapete vermelho. Foi natural. Sem frio na barriga, interrogações deslizando pelas mãos suadas, uma urgência em saber se aquilo era ou não pra ser.

É que um dia a gente sente que quando é pra ser a gente sente."

Agora eu espero que possamos ficar bem,  porque certas coisas não dependem da gente pra acontecer, elas são mesmo assim e não adianta ter pressa.

Fico ali olhando p ele e tentando não me perder no mundo inteiro que ele colocou em mim...

Eu sou boa nesse lance de amar de olhar pra ele e só desejar o bem, o melhor, toda a sorte do mundo, toda a alegria possível.

Estou tentando mostrar tudo isso com um pouco mais de palavras, ações e um pouco menos com o meu olhar. E ontem ele falou tanto, tanto, meu olhar me contou uma história linda durante toda essa noite e eu acordei assim ...Cumprindo o trato dos meus olhos com o meu coração representado legalmente por minhas mãos nesse teclado.

Estou tentando lidar com essas dificuldades que você já conhece tão bem.

Daí não tive outra saída a não ser escrever os meus sentimentos, de uma forma meio torta, tudo isso que eu penso sobre uma das pessoas mais incríveis que já conheci e fico aqui, com os dedos cruzados, desejando que um dia eu possa fazer você enxergar toda essa imensidão em si mesmo.


Eu   posso você, assim, assim. Sem tirar nem por !


  
  

quarta-feira, 14 de março de 2012

Mantra




Com propósito é que se avança.

É com um punhado de pensamentos bons que se constrói uma ciranda. Uma roda de alegria. É só pensando no bem e dando morada pra ele que tudo se transforma. Não há feio que persista. Não há energia ruim que consiga conviver ao lado da boa. Confia no que quer que seja criado e coloque sua energia ai. Todo dia é tempo de criar mudanças.

É tempo bom pra quem gosta de viver feliz. E é curto, muito curto.

Quando se cria um laço de sentimento sem aperto a vida flui mais suavemente. Teremos que ser menos equilibrista depois. Você verá.

Há uma luz sempre a nos guiar basta enxergá-la. É você que lidera. A gente cria aquilo que deseja. Somos resultado das nossas paixões, então cuidado onde anda colocando suas vontades. 
'Porque a vida é um presente, não importa o laço'. 
Há que agradecer.

É que ando tão apaixonada por sua palavras Vanessa Leonardi.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Não, a vida não começa aos 40





Não existe “vida de verdade” – só existe vida, que é o que está acontecendo agora, seja lá o que for. Acho que vale mais a pena aceitar que envelhecemos e descobrir um jeito de viver com isso. Não começando, mas continuando a criar a melhor vida possível, a melhor vida possível com os limites de cada uma, do jeito de cada uma. E com uma grande dose de generosidade com as nossas atrapalhações.


– e também com as de quem amamos –seja aos 20, aos 40 ou aos 70.


Coluna completa e sempre deliciosa da Eliane Brum, Aqui !




Concordo, porque esse corpo aqui vive no presente.

domingo, 11 de março de 2012

Perto do meu amor





Posso colorir uma realidade fantástica pra você se distrair do dia a dia pesado. Vou tirar você do marasmo só pra te distrair com minhas histórias mirabolantes de uma vida anormal.
  E sei que nem sempre é possível estar feliz o tempo todo. Mas você só vai chorar na minha frente quando eu te matar de rir. E qd as chuvas  vierem a gente corre p fora e  vamos tomar um belo banho ou enfrentar de capa, de guarda chuva, de proteção qualquer. Mas a gente vai. 
Juntos.

quinta-feira, 8 de março de 2012

As minas daqui também pira




Usa anabelas. Não existe mulher que calce melhor uma Anabela como as cariocas. E que saiba qual vestido escolher e como andar sobre elas.
Olha para o horizonte e se lembra do que quer hoje a noite, do quanto falta, do que faz falta, do que está errado.
A garota do Rio de Janeiro é despretensiosa, não preocupa-se com ajustes, e nem quer a precisão da esteira de uma linha de montagem.
Adora rir.
Odeia falsa educação.
Ironiza quando recebem um elogio. Tarnsporta-se para outro planeta (ainda estando ali) quando ultrapassam o limite da sua intimidade.
Preserva a liberdade.
Se diverte com homens que falam de dinheiro. Se diverte com homens que contam vantagens no trabalho. Despreza homens grudentos, esnobes, arrumadinhos, fúteis, incultos, mal educados.

Pira com homens interessante.

É assim que ela seleciona: os interessantes e os não.

Algumas nem pensam em ser chefe. Chefiar garotos, tédio. O que  dispara seu conflito , o de agregar. Terá que dar ordens, broncas, demitir, exigir, estipular metas, cobrar eficiência. E depois dança em casa ao som de David Guetta. Não aceita  pressão, e ela sabe por quê. A vida faz sentido, e ela sabe viver.
A garota do Rio de Janiro, manobra bem. O problema é o celular e ultrapassa um caminhão de 4 eixos, que deu passagem assim, só por educação, não se esconde no anonimato do insufilm, já tem o seu play list selecionado de acordo com seu humor e, dependendo dela, canta sozinha em voz alta, para não ouvir impropérios.
Faz tanta coisa ao mesmo tempo…
Dirige bem,mesmo pensando em vinte coisas em dez segundos. Nem se preocupa com as conclusões.
Liga para a mãe diariamente. Troca confidências com o pai. Ama a esposa do irmão. E ama as amigas. Com quem vai para a praia, e conseguem ficar muitos segundos em silêncio.

A garota do Rio de Janeiro, enrola.
Quando não quer, faz jogos.
Quando quer, embaça.

Ah, as minas daqui, também piram.

E como pira.

Mas me dá licença, poeta, para uma licença poética, homenageando sem pedir licença a graça natural da mulher carioca


Ok Marcelo Rubens Paiva?.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Palavras são inúteis; Aquilo que liga duas pessoas existe além delas




A gente cresce acreditando no poder das palavras. Desde criança, nos dizem que, conversando, seremos capazes de acertar qualquer coisa, de resolver qualquer situação. Infelizmente, não é verdade. Quando se trata de relacionamentos, as palavras são inúteis.
Os sentimentos apaixonados que nos ligam a alguém não são criados por palavras. Os desentendimentos que aos poucos ou de súbito nos separam da pessoa não são provocados por palavras. Os sentimentos de perda, dor e morte causados pelas rupturas tampouco são remediados por palavras. As palavras descrevem, celebram, exaltam e lamentam nossas paixões, mas não são responsáveis por elas. Quando se trata de amor, as palavras são inúteis.
Não obstante, nós falamos. Cultivamos a ilusão de que o outro pode ser envolvido, seduzido, convencido pela nossa retórica. Acreditamos, fundalmentalmente, que o nosso desejo pode ser transmitido pela palavra. Por isso, telefonamos, mandamos mensagens, escrevemos longos emails, rabiscamos poemas, fazemos letras de música, marcamos conversas dolorosas e intermináveis que – a rigor – não levam a lugar nenhum.
Quando existe um sentimento comum, as palavras são apenas acessórias. Quando não há sentimento, elas agem como um bisturi: cortam, expõem e dilaceram, mas não criam.
Tenho a impressão de que aquilo que liga dois seres humanos existe além das palavras. Uma magia de natureza física ou psíquica dita que Fulana é atraída por Sicrano ou vice-versa. Isso acontece de forma instantânea, ou pode ser construído lentamente, mas não sobre o alicerce das palavras. As palavras são apenas a aparência do que nos liga. Quando as pessoas conversam, trocam entre si códigos que vão além do que elas dizem. Há os olhos, as mãos, o corpo e a voz, que sinalizam uma espécie de todo invisível. Há um conjunto de sinais nos quais um se expressa e o outro se reconhece – e deseja, ou não deseja. O sentido das palavras nessa troca é secundário. A mensagem profunda sobre quem se é já foi Se isso não nos parece tão claro é porque vivemos num universo revestido de palavras. Temos a sensação de que elas iniciam e finalizam todos os atos, mas não é assim. As palavras são apenas sintomas. Quando as pessoas se conhecem e se apaixonam, conversam da mesma forma como se beijam, com fúria e com encantamento. No final, quando tudo acabou, as palavras doem e escasseiam. Elas são repelidas pelo outro da mesma forma que o toque, igual que o olhar. Temos a impressão de estar encerrando o amor com as palavras, mas elas são apenas as flores do enterro. Quando chegamos a elas, o desejo está morto.
Infelizmente, os ciclos de paixão e rejeição não são simultâneos. Eu ainda estou cheio de palavras doces, mas você não quer mais ouvi-las. Ou eu me dirijo a você com palavras de desejo e prazer, mas elas deixaram de fazer sentido. Se você não sente mais o que eu sinto, não vai entender o que eu digo. Nem será tocada pela magia das minhas palavras, que se tornam inúteis. Quantas das nossas conversas não são trocas de palavras inúteis? Tentamos transpor com elas o abismo da indiferença do outro. Explicamos, sugerimos, argumentamos - inutilmente.
Então, economize palavras. Fique quieto e preste atenção. Escute o que ela não diz. Entenda o que ele nem falou. Os gestos contam coisas, os olhares antecipam. Atitudes valem mais do que declarações de amor – e não podem ser substituídas ou consertadas por palavras.
Ivan Martins

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sem amarras




Liberdade. 

Há quem diga que é assunto batido de tão discutido, mas quem dera todo mundo soubesse viver livre.

Acho que me assustaria se, durante o dia, contabilizasse todas as vezes em que identifico, pela observação de mim e dos outros, uma atitude (ou a falta dela) adotada com o intuito de ganhar aprovação. Nada de errado em ser aprovado pelas pessoas, desde que nesse jogo a gente não perca a identidade e, depois de se metamorfosear tanto, não se reconheça mais no silêncio do próprio quarto, tendo só os berros da consciência pra ouvir.

Não quero ser aceita por gente que me aplaude, mas não sabe quem eu sou. Não quero passar os dias domesticando meus passos e perdendo o prazer de caminhar. Não quero seguir o fluxo só porque, do contrário, ele pode me esmagar. Prefiro estar sozinha com o que me dá paz, ou na companhia daqueles que querem me acompanhar apenas por estima e afinidade, ainda que sejam poucos (sim, porque certamente a naturalidade sempre trará alguém para perto de mim).

Quero trocar o medo da exposição pela alegria da transparência, e cada dia é um exercício para isso; às vezes é frustrante, às vezes é recompensador. Mas melhora muito quando me lembro de que, de uma forma ou de outra, sempre vai haver alguém que não vai gostar. Ou seja, não há unanimidade. Se eu preciso ser transformada pra continuar vivendo (e as mudanças sempre virão), que seja para o meu aperfeiçoamento, e não para atender ao capricho de alguém ou de algum grupo, mesmo que eu deseje muito fazer parte dele.

E bom é viver sem amarras e desfrutar de tudo: dos livros que lemos e do tempo que temos, sempre com sinceridade.


Laís D'Andréa





sexta-feira, 2 de março de 2012

Acho que seu nome seria coisa rara.







Amor a primeira vista? 
Alma gêmea? 
Encontro marcado?

Não acredito em nada desse tipo.

Mas acredito no reconhecimento silencioso e intuitivo de almas afins, de amores especiais.

Comunicação outra, re-conhecimento de intensidades e semelhanças.

O corpo reage, você sente. 


A lógica não alcança e a palavra não traduz.
  
Você não compreende, mas você sabe.

 Você sabe que está diante da pessoa certa quando você encontra paz no abraço do outro,
  
Quando o outro te abraça e os sons a sua volta diminuem, quando você é invadida por uma rara sensação de calor, paz e silêncio, então você sabe, você tem um amor.

Ela é tão eu e eu tão ela que quando ela vai embora sinto falta de mim!


Eu não acredito em amor, mas acredito em nós dois e na forma como você faz alegre meus dias. Nunca quis pensar no que seria, ou em um amanhã, e dessa impossibilidade vi nascer isso que não tem nome, mas é bacana, livre, gostoso e é nosso.

Eu, que te conheço de uma forma que não entendo, te sinto pelo avesso. Eu sei quem você é. Tudo em ti me interessa, tuas falhas, tua solidão, teus enganos e tua ira. E esse menino que mora em ti, que adora me roubar sorrisos e de quem eu gosto muito. Esse menino que guarda uma tristeza escondida, que quase ninguém vê, que tem uma mão que fere e a outra que acarinha. Eu gosto de abraçá-lo.

Eu que sempre pude ser inteira ao teu lado, gosto de fazer do teu desejo o meu prazer; do meu corpo o teu gozo; do que falo, teu falo e teu beijo.
Eu que gosto tanto da tua orelha, e da forma como de leve você muda o tom da voz para mentir, gosto mais ainda de como juntos ou separados torcemos um pelo outro, e gosto muito, mas muito das tuas pernas, você sabe e de uma coisa que só gosto em você, em mais ninguém.
E o melhor é que nos interessamos e nos desinteressamos um pelo outro, quase sempre ao mesmo tempo, o que facilita e alivia.

Eu, que sei tudo isso, nunca me permiti nada além de uma certa nostalgia por ter chegado tarde demais na tua vida, por que acho mesmo que teríamos sido um casal e tanto, dois iguais,olho no olho, muitas loucuras, amor no carro, viagens para Paris e New Orleans, e você leria nu para mim e eu te dedicaria meus livros. Mas nada disso chega a doer de verdade, por que a vida é hoje e sabes bem que não lamento e quase nunca penso nisso. Por que de alguma forma estamos um para o outro, no agora, do nosso jeito.

Eu que adoro tua urgência quando sentes meu cheiro, não sei dar nome ao que temos. Como se chamam as relações que são leves, intensas, francas e duras, mas nem por isso menos doces? 

Que nome dar a um afeto que vive por dia, que não espera ou cobra, que é espelho e estrada, que não teme partida e celebra a chegada?

Acho que seu nome seria coisa rara.

Eu que te minto muito pouco, mas não altero o tom da voz quando faço isso, também gosto de você.


Andréa Beheregaray


quinta-feira, 1 de março de 2012

Declaro-os





- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.

(Promessas de Casamento- Martha Medeiros)