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Quando voltava das aulas, eu via as flores, as cores, os cheiros.
E só hoje fiquei sabendo que era a tal primavera invadindo a nossa casa, o seu jardim, a nossa rua.
Eu já praticava a arte da abstração desde muleque, fugia das tantas coisas sabidas da minha mãe. Só que né? Tem uma hora que fugir não é possível, não rola, não acontece e também acontece da vida te surpreender, insistir e te pegar lá na curva.
E o pacote da surpresa veio completo, um kit bem interessante e irresistível.
Resistência contornada, vencida por uma voz de timbre limpo, olhos atenciosos e mãos que dizem coisas.
Alguém que tranqüiliza quando apenas sorri. Uma pessoa que traz em si o amparo de tudo. Tem o dom da conveniência e da clareza e pronuncia reciprocidade.
Como não rever a rota de fuga?
Hoje eu enxergo a primavera com todas as suas nuances transformadoras. Hoje eu também enxergo que o amor não é mais um estardalhaço.
O amor é repleto de suavidade, o amor dele me penetra sem me invadir. Ele me liberta com o seu abraço. O amor dele me trás o sonho bom da entrega ao desconhecido. Não enxergo nem de longe a menor iminência de conflitos assustadores, salvo tpm, claro.
Consigo sentir mais confiança na vida.
Enxergo a primavera e enxergo o amor.
Quando estamos prontos, nós enxergamos o necessário.
E a primavera e o amor está aqui hoje para nós dois, porque nós dois estamos prontos.
O Tempo sempre está certo.
Minha mãe também.