Despeço-me com o semblante tranquilo. Se voltar, tudo bem. Se não voltar, tudo bem. Aceito a transitoriedade de forma natural. Fui inteira, não tenho pendências. Se voltar a gente não continua de onde parou, a gente começa de novo. Em minha vida aceitar os fins foi um alívio. Sem culpa a gente caminha mais leve. Com a consciência em paz a vida flui com mais sabor. A saudade fica, traz riso fora de contexto e torna o passado mais bonito. Mas às vezes as pessoas devem ficar no passado mesmo, porque o presente mudaria tudo. Tem aquele amigo que é especial porque ficou no lugar quedeveria ficar. A vida passa, as pessoas também. É simples – pode doer um pouco - mas eu aceito. Às vezes a saudade dói mais, às vezes menos. Mas ela se ajeita. Existem pessoas que, ainda bem, são para sempre. Mas existem outras que, ainda bem, se vão. Não precisa ser uma tragédia. A vida segue. E é por isso que temos de ser tão atentos ao hoje. O equilíbrio entre a melancolia do passado e a ansiedade do futuro é um presente bem vivido. Se não é do jeito que a gente queria, mesmo assim a gente pode ter momentos de alegria. E são esses que precisamos viver com o sentimento de despedida, com a convicção de que - por menores que sejam - não voltarão. E se a gente sabe que não tem outra chance a gente costuma aproveitar melhor a que tem. O que vivemos está relacionado com o nosso olhar. E se nosso olhar muda, tudo muda: o lugar, as condições, os motivos, as pessoas. Aceitar o passado enquanto passado é um conforto. Ele não me persegue, não me atormenta, não me pede nada. Assim caminho sem sombras. São somente lembranças. E lembranças são pensamentos distantes - a gente se diverte ou se lamenta - nada mais que isso. Sou conformada ou astuta, não sei. Mas isso me faz leve. E leveza é, de longe, o maior desejo dos últimos tempos.
E agora Maria?