sexta-feira, 12 de abril de 2013

Luis Milesi



O meu amor por você permanece. A cada sim. A cada não. Principalmente a cada não. Quando eu me lembro do formato do seu nariz, do gel dos seus cabelos. Da suas mãos. Do furinho no seu queixo. Do cheiro do seu suor. Da sua imensa gargalhada cheia de timidez. Da sua voz feita para cantar as tolices da vida. O meu amor permanece, intacto, cuidado como se fosse uma coisinha de cristal. Ele está nas fotos do menino que você foi. No carinho com que você fala dos nossos pais. Nas sua capacidade de se reinventar que eu sempre adorei, apesar de ser igual, acho que porque somos capazes de nascer uma nova criatura, e esquecermos as mágoas desde que o samba é samba. Ele, o meu amor por você, está onde sempre esteve, “como negoço branco e negoço preto”, diria você, rindo, rindo.

Meu amor por você permanece. Ele está no mesmo lugar – por favor, me ouça – no mesmo lugar em que esteve, a vida toda, a vida toda. Ele nunca saiu dali. Não houve tufão, nem revolução, nem vereda equivocada (e meu Deus, querido, foram tantas, sou o resultado de todas as minhas escolhas , das minhas muitas escolhas ruins e boas) que movesse um milímetro o meu amor por você. O mesmo prumo, o mesmo eixo. Meu amor por você grita quando tomo suco de laranja com banana inventado por mamãe. Quando, sentada na minha varanda olhando para o céu, fumo aquele cigarro da madrugada, antes de ir para a cama. Meu amor por você fala mil idiomas, mas não tem com quem praticar. Meu amor por você come danoninho com o dedo, toddy, geléia de mocotó e dói quando meu joelho dói. Meu amor por você permanece, intacto, limpo, puro, como naquela primeira manhã que me contou emocionado que iria ser pai. Meu amor por você chegou ao êxtase e ampliou-se a Sarah, a sua princesa, a sua mulher, a menina que mudou a sua vida. Ele não foi tocado, nem pela luz, ele não foi remexido e revirado com as gavetas do meu coração, ele não pegou chuva na corridinha entre o ponto do ônibus e a entrada do prédio. O meu amor por você segue, quase o mesmo, quase bem, quase sempre. Meu amor por você está estampado na camiseta de cada um que passou pela minha vida, nos pudins da Mamãe, nas varas novas que você usa para pescar com meu pai, na gravação na qual o Capital inicial diz que: Nem tudo é como vc quer, nem tudo pode ser perfeito, pode ser fácil se você ver o mundo de outro jeito... Mas ele, ah, ele não muda. Meu amor por você está congelado no tempo, como as fotos da nossa família, como meu nariz arrebitado quando vejo um gatinho na rua, como se não houvesse amanhã.

Meu amor agora por vocês sabe que não haverá fim.